Medo de dirigir: o carro como divã
Do banco do passageiro, terapeuta auxilia motorista que busca coragem para guiar
(19-08-09) – Quando, em 1993, a especialista em psicologia do trânsito Cecília Bellina desenvolveu um tratamento pioneiro para pessoas com medo de dirigir, baseada na Terapia Comportamental Cognitiva (TCC), o método consistia em conduzir a sessão de terapia dentro do carro. Durante uma hora, do banco do passageiro, o terapeuta trabalhava in loco as angústias e ansiedade do paciente, buscando ajudá-lo a superar o medo no momento em que ele aparecia.
Há nove anos, entretanto, depois de observar na recepção de sua clínica o entusiasmo com que duas pacientes conversavam sobre os medos e superações vivenciadas ao volante, Bellina resolveu dar nova via ao seu método: a terapia em grupo. O trabalho no carro ficou a cargo dos assistentes terapêuticos (AT), instrutores treinados para ensinar motoristas que têm medo de dirigir. “O fóbico precisa do contato com o carro. Se ele não se juntar ao medo nunca vai vencê-lo. Entretanto, a terapia dentro do veículo demora mais a dar resultados porque a fala do paciente é sempre interrompida; afinal, ele tem de prestar atenção ao trânsito”, afirma Bellina.
Para quem é fóbico também a grupos, a terapia pode ser feita individualmente. Bellina acredita, entretanto, que o grupo é mais vantajoso. “O paciente tem a oportunidade de dividir seus medos e inseguranças, ouvir outras pessoas e ser modificado pelas experiências de quem passa pela mesma situação”. Segundo a especialista, o terapeuta sai do consultório para o banco do carro apenas para acompanhar pacientes com quadro de pânico. “Há pessoas que não conseguem nem entrar no carro, têm crises de choro, tremores. Nestes casos, a indicação a clínica é a de que o paciente seja assistido no automóvel”.
A hora e a vez de Andréia
Após superar as etapas teórica e prática para tirar a CNH (confira abaixo a série Coragem de Dirigir), deixei o carro com o adesivo de “autoescola” para estrear o com os dizeres “motorista em treinamento”. Por dificuldade de conciliar meu horário com o do grupo de terapia – e para que o processo não seja interrompido agora – tive uma sessão no carro, acompanhada pela psicóloga Fabiana Saghi. O objetivo, porém, é frequentar o grupo.
A primeira ansiedade foi justamente com o adesivo do carro. Será que os outros motoristas o respeitariam tanto quanto respeitam um carro de autoescola? Para minha surpresa, Fabiana contou que o respeito costuma ser maior com o “motorista em treinamento”, isso porque muitos acreditam que lugar de carro de autoescola é em rua deserta.
De um jeito ou de outro, me tranquiliza poder sinalizar aos demais motoristas que ainda não tenho total domínio do carro. A exemplo de alguns países, talvez fosse mais seguro o motorista iniciante ter uma sinalização no carro indicando sua condição. Assim, dividimos a responsabilidade. Só a carteira provisória não basta, ninguém vê.
O fato de estar com a terapeuta ao lado deu-me uma segurança que jamais senti. Claro que tive certo receio de guiar em ruas estreitas e parar em ladeiras, mas Fabiana me encorajou a enfrentá-lo, dando-me suporte emocional e técnico (é difícil perder o medo de dirigir se você não souber manusear o carro).
Ainda me confundo um pouco com as marchas. Reduzidas me fazem sonhar com um carro automático e as motos são um pânico à parte. Mas nada muito diferente de que acontece a uma pessoa normal. Ops, eu disse “normal”? É... acho que começo a caminhar – agora sobre rodas – para isso.
Apoio: Clínica Escola Cecília Bellina: www.ceciliabellina.com.br
Fonte: Webmotors / Texto: Andréia Jodorovi
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